Introdução
A respiração dos anfíbios representa uma das características fisiológicas mais notáveis deste grupo de vertebrados. Ao contrário de outros animais, os anfíbios possuem múltiplos mecanismos respiratórios que funcionam de forma complementar ao longo de sua vida, variando conforme o estágio de desenvolvimento e as condições ambientais.
Tipos de respiração dos anfíbios e suas características:
Os anfíbios apresentam quatro tipos principais de respiração: cutânea, pulmonar, branquial e bucofaríngea. Cada um desses mecanismos possui características próprias e atua de maneira integrada ao metabolismo dos animais.
1. Respiração cutânea: a pele como órgão respiratório
A respiração cutânea é uma das mais importantes para os anfíbios adultos. Ela ocorre por meio da difusão de gases diretamente através da pele, que deve permanecer sempre úmida para permitir a troca eficiente de oxigênio e dióxido de carbono com o meio ambiente. A pele dos anfíbios é ricamente vascularizada, e a oxigenação do sangue pode ocorrer totalmente por essa via, principalmente em espécies que vivem em locais úmidos e sombreados. Em determinadas espécies, como as do gênero Plethodon, a respiração cutânea é o único meio respiratório na fase adulta, já que esses animais não desenvolvem pulmões.
2. Respiração pulmonar: função e estrutura dos pulmões
Nos anfíbios adultos, principalmente em sapos e rãs, os pulmões desempenham papel complementar à respiração cutânea. Embora menos eficientes do que os pulmões de répteis, aves ou mamíferos, esses órgãos permitem trocas gasosas importantes, especialmente em situações de maior atividade metabólica. Os pulmões dos anfíbios são estruturas simples, saculiformes e com poucas subdivisões internas, mas são capazes de fornecer oxigênio ao organismo por meio de movimentos de pressão bucal que forçam o ar para dentro dos pulmões (processo conhecido como ventilação por bomba bucofaríngea).
3. Respiração branquial: presente nas fases larvais
Durante a fase larval, os anfíbios apresentam respiração branquial. Os girinos, por exemplo, possuem brânquias externas ou internas que realizam trocas gasosas com a água. À medida que o animal passa pela metamorfose, as brânquias geralmente são substituídas por pulmões e a pele se torna o principal órgão respiratório. No entanto, algumas espécies aquáticas, como a Necturus maculosus (conhecida como mudpuppy), conservam brânquias externas funcionais mesmo na fase adulta, apresentando respiração branquial permanente.
4. Respiração bucofaríngea: função complementar
A respiração bucofaríngea é uma forma menos conhecida, porém significativa, de respiração nos anfíbios. Ela ocorre pela mucosa altamente vascularizada da cavidade bucal e da faringe. Mesmo quando a boca está fechada, o animal realiza movimentos rítmicos que promovem a troca de gases entre a cavidade oral e o meio externo. Esta forma de respiração é mais comum durante períodos de baixa atividade, como em repouso ou hibernação.
Adaptações fisiológicas e importância ecológica
A diversidade de mecanismos respiratórios permite que os anfíbios sejam altamente adaptáveis a ambientes distintos, incluindo zonas úmidas, florestas tropicais e até regiões semiaquáticas. A respiração cutânea, por exemplo, permite que esses animais permaneçam longos períodos submersos, já que não dependem exclusivamente do ar atmosférico. Durante a hibernação, a respiração cutânea e bucofaríngea são cruciais para a sobrevivência, uma vez que os pulmões ficam inativos.
Por serem ectotérmicos (ou seja, com temperatura corporal dependente do ambiente), os anfíbios regulam seu metabolismo em função da temperatura externa, o que afeta diretamente a eficiência respiratória. Em baixas temperaturas, a taxa metabólica diminui, reduzindo também a necessidade de oxigênio. Nessas condições, a respiração cutânea é mais do que suficiente para manter as funções vitais.
Espécies com variações respiratórias
Algumas espécies ilustram bem as variações respiratórias no grupo dos anfíbios. Os axolotes (espécie de salamandra do gênero Ambystoma), por exemplo, mantêm suas brânquias externas durante toda a vida (um caso de neotenia respiratória). Já as rãs do gênero Rana apresentam pulmões bem desenvolvidos e são capazes de alternar entre a respiração pulmonar e cutânea conforme a demanda metabólica e o ambiente.
Fatores que afetam a respiração
Diversos fatores interferem na eficiência respiratória dos anfíbios. Entre os principais, destacam-se:
- Umidade ambiental: a perda de umidade prejudica a respiração cutânea, tornando os anfíbios extremamente sensíveis à desidratação.
- Temperatura: afeta a taxa metabólica e a necessidade de oxigênio.
- Poluição da água: interfere na difusão de gases pelas brânquias ou pele.
- Doenças fúngicas: como a quitridiomicose, que afeta a pele e compromete a respiração cutânea.
Importância ecológica da respiração cutânea
Do ponto de vista ecológico, a respiração cutânea é uma característica que coloca os anfíbios como bioindicadores ambientais. Por dependerem de uma pele permeável e de ambientes úmidos para respirar, essas espécies são altamente sensíveis a alterações no habitat, poluentes químicos e variações climáticas. A diminuição da população de anfíbios em determinadas regiões pode sinalizar desequilíbrios ecológicos ou degradação ambiental.

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Rã: respiração ocorre principalmente pela pele. |
Artigo revisado por Tânia Cabral - Professora de Biologia e Ciências - graduada na Unesp, 2001.
Atualizado em 25/08/2025