Animais Rotíferos


O que são os rotíferos?


Os rotíferos são pequenos organismos microscópicos pertencentes ao filo Rotifera, amplamente distribuídos em ambientes aquáticos, tanto de água doce quanto marinhos. Apesar de seu tamanho diminuto, desempenham papel fundamental nos ecossistemas aquáticos, sendo importantes na cadeia alimentar e na ciclagem de nutrientes. Seu nome deriva do latim “rota”, que significa roda, em referência à estrutura ciliada que possuem na região anterior do corpo, conhecida como corona, que se assemelha a uma roda em movimento quando em atividade.


Esses organismos são metazoários microscópicos, geralmente com tamanho variando entre 0,1 e 1 milímetro, e apresentam corpo alongado, dividido em três regiões principais: cabeça, tronco e pé. A principal característica que lhes confere o nome é a presença da corona, um conjunto de cílios dispostos em anel ao redor da boca, cuja movimentação cria correntes de água que auxiliam tanto na locomoção quanto na captura de alimento.



Características físicas dos rotíferos:


Corpo microscópico e transparente: a maioria mede menos de 1 milímetro e possui corpo translúcido, permitindo a observação de seus órgãos internos.


Estrutura corporal tripartida: dividem-se em cabeça (com a corona ciliada), tronco (onde estão os órgãos vitais) e pé (que pode possuir glândulas adesivas para fixação em substratos).


Simetria bilateral: apresentam simetria bilateral bem definida, típica dos animais com organização corporal complexa.


Sistema digestivo completo: possuem boca, faringe musculosa com mastax (estrutura que tritura o alimento), intestino e ânus, evidenciando uma organização relativamente avançada.


Sistema nervoso e sensorial: o sistema nervoso é composto por um gânglio cerebral e nervos que controlam os cílios e a musculatura; possuem também órgãos sensoriais táteis e fotorreceptores simples.



Habitats e distribuição geográfica


Os rotíferos habitam ambientes aquáticos diversos, sendo mais abundantes em águas doces como lagos, lagoas, rios e pântanos, embora algumas espécies sejam marinhas. Também podem ser encontrados em solos úmidos, musgos e líquens, sobrevivendo em condições de desidratação extrema por meio de um estado de anidrobiose (forma de dormência que lhes permite resistir à falta de água). Estão amplamente distribuídos em todas as regiões do planeta, desde zonas tropicais até ambientes polares.



Alimentação


Os rotíferos são, em sua maioria, filtradores. Alimentam-se de partículas microscópicas suspensas na água, como bactérias, protozoários, algas unicelulares e detritos orgânicos. A corona ciliada cria correntes que conduzem o alimento até a boca, onde o mastax tritura as partículas antes da digestão. Essa dieta os coloca em posição intermediária na cadeia alimentar, servindo de alimento para pequenos crustáceos, larvas de insetos e peixes.



Reprodução e ciclo de vida


A reprodução dos rotíferos pode ser assexuada ou sexuada, dependendo da espécie e das condições ambientais. A forma mais comum é a partenogênese, em que fêmeas produzem ovos sem fecundação, originando descendentes geneticamente idênticos. Em condições desfavoráveis, ocorre reprodução sexuada, com a formação de machos e fêmeas, o que promove a variabilidade genética e a formação de ovos resistentes (de repouso) que suportam condições adversas até o ambiente se tornar novamente favorável. O ciclo de vida é rápido, variando de poucos dias a algumas semanas, o que lhes permite colonizar rapidamente novos ambientes.



Locomoção


A locomoção dos rotíferos é variada e depende do ambiente. Muitos se deslocam por meio do movimento dos cílios da corona, que criam correntes de água impulsionando o corpo. Outras espécies utilizam movimentos de contração e extensão do corpo, semelhantes ao de uma lagarta. Algumas espécies fixam-se temporariamente a superfícies utilizando o pé e as glândulas adesivas, podendo liberar-se e nadar quando necessário.


Taxonomia e grupos principais:


Os rotíferos pertencem ao filo Rotifera, que está incluído no reino Animalia e é tradicionalmente dividido em três classes principais: Monogononta, Bdelloidea e Seisonidea. Cada uma dessas classes apresenta características próprias de morfologia, reprodução e ecologia, refletindo a diversidade adaptativa do grupo.


A classe Monogononta é a mais numerosa e diversa, representando cerca de 90% das espécies conhecidas. Os monogonontos apresentam corpo geralmente coberto por uma estrutura rígida chamada lorica, formada por proteínas e quitina, que fornece proteção e sustentação. São majoritariamente planctônicos e vivem em ambientes de água doce, embora existam espécies marinhas. Em relação à reprodução, possuem um ciclo de vida caracterizado pela partenogênese cíclica: durante condições ambientais favoráveis, as fêmeas produzem ovos partenogenéticos que originam apenas fêmeas; em condições adversas, há a produção de machos e a ocorrência de reprodução sexuada, resultando em ovos de repouso resistentes à dessecação e às variações ambientais.


A classe Bdelloidea é composta por rotíferos exclusivamente partenogenéticos, ou seja, não possuem machos e se reproduzem apenas por partenogênese obrigatória. Essa característica faz das bdelloideas um caso singular na biologia evolutiva, pois são organismos que persistem há milhões de anos sem reprodução sexuada, mantendo grande diversidade genética por meio de mecanismos como recombinação somática e captura de DNA ambiental. Morfologicamente, apresentam corpo alongado, sem lorica rígida, com grande flexibilidade, o que lhes permite locomover-se por rastejamento ou natação. São principalmente bentônicos ou associados a substratos como musgos, solos úmidos e biofilmes, sendo notáveis por sua resistência à dessecação prolongada (anidrobiose).


A classe Seisonidea
é a menos numerosa e inclui apenas algumas espécies marinhas ectossimbiontes de crustáceos, como as do gênero Seison, que vivem aderidas a camarões do gênero Nebalia. Esses rotíferos apresentam corpo alongado e achatado, corona reduzida e reprodução sexuada obrigatória. Ecologicamente, diferem dos outros grupos por seu modo de vida simbiótico, restrito a habitats marinhos específicos.



Principais espécies:


Brachionus plicatilis: espécie marinha amplamente estudada, utilizada na aquicultura como alimento para larvas de peixes e crustáceos devido ao seu alto valor nutritivo.


Philodina roseola: espécie de água doce comum em ambientes estáveis, conhecida por sua capacidade de anidrobiose, resistindo longos períodos sem água.


Keratella cochlearis: espécie típica de lagos temperados, com carapaça dorsal espinhosa que fornece proteção contra predadores.


Asplanchna priodonta: rotífero transparente e de corpo volumoso, que se alimenta de outros rotíferos, sendo considerado predador dentro do grupo.


Rotaria rotatoria: espécie de água doce encontrada em musgos e solos úmidos, com alta resistência à dessecação e reprodução partenogenética.




Importância ecológica:


Os rotíferos desempenham funções essenciais nos ecossistemas aquáticos. Como consumidores primários e secundários, integram o zooplâncton e participam do fluxo de energia e da ciclagem de nutrientes. Regulam populações de micro-organismos e servem de alimento para vários organismos aquáticos. Sua presença também é um indicativo de qualidade da água, sendo amplamente utilizados em estudos de biomonitoramento ambiental. Além disso, sua rápida reprodução e sensibilidade a poluentes fazem dos rotíferos organismos-modelo em pesquisas ecotoxicológicas e biológicas.

 

 

Imagem microscópica do Brachionus_falcatus_zacharias

A espécie Brachionus falcatus Zacharias, 1898 pertence ao filo Rotifera, classe Monogononta, ordem Ploima e família Brachionidae. Esta rotífera apresenta lorica dorso-ventralmente comprimida com seis espinhos na margem dorsal anterior (os espinhos intermédios são mais longos e curvados para baixo), adaptando-se por vezes a correntes em ambientes de água salobra ou estuarina. A ocorrência registrada é cosmopolita em ambientes de água salobra ou doce eutrofizada, sendo parte relevante do zooplâncton nesses ecossistemas.

 

 


 

Por Tânia Cabral - Professora de Biologia e Ciências do Ensino Fundamental e Médio - graduada na Unesp, 2001.


Publicado em 29/10/2025



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Bibliografia Indicada:

 

Fonte de referência:

 

BRUSCA, Richard. C.; BRUSCA, Gary. J. Invertebrados. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2007.

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